3 a 0 Elimina — O Que os Campos de Várzea Ensinam Sobre o Futuro da Educação

3 a 0 Elimina — O Que os Campos de Várzea Ensinam Sobre o Futuro da Educação

A maioria de nossos craques do futebol, como Ronaldinho Gaúcho; Pelé; Kaká; Romário; entre outros tiveram suas maiores habilidades criadas nos mais variados campos de várzea localizados pelo nosso Brasil. Como o acesso a esses locais sempre foram fáceis, não havia muitas barreiras para qualquer pessoa que quisesse jogar ou aprender . Além disso, soma-se ao ponto que os recursos que uma criança precisava para começar a jogar bola era algo esférico que pudesse ser chutado. Nada que um par de meias enroladas não resolvesse ou um caroço de abacate, como o ex-jogador Sócrates em seus primeiros passos no futebol.

Durante os tempos de futebol de várzea a interação que acontecia não só auxiliava no aprendizado das habilidades técnicas necessárias, como também na transferência de conhecimento entre os mais velhos para os jovens e no desenvolvimento das famosas soft-skills que tem papel super importante no nosso dia-a-dia, como trabalho em equipe, liderança, gestão de conflitos, autoconfiança e muitas outras.

Mas, entre todos os benefícios que os campos de  várzea trouxeram para o desenvolvimento dos jogadores, é justamente a sua falta de recurso como falta de traves, buracos irregulares e raízes de árvores no meio dos campos, somados com a liberdade para a experimentação e a pouca intervenção dos adultos que fazem crescer craques com um repertório motor enorme, com estilo único e invejável além de auxiliar o cultivo da criatividade e a imaginação.

“A Tecnologia de ponta do futebol é a rua e a miséria. Numa partida improvisada, de imediato alguém inventa algo. No meio desse combate de pés descalços, um jogador que possa não ser muito alto; nem muito forte; nem muito rápido, soluciona um problema de forma original. Com uma recepção e um toque três adversários são ultrapassados(…) O jogador não usa o catálogo de soluções conhecidas, cria.” (Jorge Valdano, 2002)

Chegam as escolas sai a espontaneidade

Na busca incessante do processo perfeito para criar verdadeiros craques de futebol, nascem as escolas de futebol que substituem a criatividade pela organização, a imposição e obsessão por determinadas jogadas.

“Tudo o que se faz no campo é repetição dos exercícios feitos nos treinos, ninguém ousa uma jogada diferente” Rivelino, ex-Internacional

E nessa transformação, o jogador criativo com estilo único, capaz de criar situações inovadoras, complexas e até surpreendentes perdem espaços para as normas, padrões mecanizados e as jogadas estereotipadas da equipe.

“Os jogadores jovens precisam de algum tempo para a auto-expressão, para a espontaneidade. Os seus treinadores precisam ver e ouvir um pouco mais e ensinar um pouco menos” Bettega.

A revolução na educação e o resgate das pessoas criativas

Convido vocês a relerem as 3 passagens adaptadas de Bettega, Rivelino e Jorge Valdano pensando agora no contexto da educação.

“Tudo o que se faz na vida profissional é repetição dos exercícios feitos nas escolas, ninguém ousa uma jogada diferente” Rivelino, ex-Internacional

“Os alunos jovens precisam de algum tempo para a auto-expressão, para a espontaneidade. Os seus professores precisam de ver e ouvir um pouco mais e ensinar um pouco menos” Bettega

“…Num projeto improvisado, de imediato alguém inventa algo. No meio do desenvolvimento do mesmo, um aluno que possa não ter um conhecimento especifico, soluciona um problema de forma original. Com uma recepção e um toque três adversários são ultrapassados(…)O aluno não usa o catálogo de soluções conhecidas, cria.” (Jorge Valdano, 2002)

Da mesma forma que o futebol sempre se destacou pelo desenvolvimento de craques com estilo único e criatividade inimaginável começamos a perceber a importância desse mesmo perfil para qualquer atividade no meio profissional e não só mais nos esportes.

Com o avanço exponencial da tecnologia e as mudanças de mercado, as empresas começam a perceber a necessidade cada vez maior de buscar pessoas com esse perfil para fazerem parte de suas equipes. As escolas, para atender a necessidade desse novo profissional, começam a repensar seus processos educacionais colocando mais liberdade dentro do aprendizado e deixando que cada aluno possa desenvolver em si, não só as competências e conhecimentos padrões, mas sim o que os torna futuros profissionais únicos e diferenciados, capazes de lidarem com situações difíceis e proporcionarem criatividade e mudanças no status quo diariamente.

Próximos passos

O movimento para a transformação da educação e, consequentemente, profissionais mais criativos ainda é muito grande, mas baseado no que o futebol pode nos ensinar, não é o contato com os ambientes de primeira com toda a estrutura necessária, não é o acesso aos mais conceituados professores e muito menos aumentar a carga horária de aulas. Por anos e anos os melhores jogadores de futebol começaram suas carreiras com poucos recursos físicos, uma bola e um campo de várzea.

Com o avanço da tecnologia, a realidade virtual e aumentada, o baixo custo de equipamentos tecnológicos, as impressoras 3D, o conhecimento aberto na internet e entre muitas outras, não só mais o futebol precisará de pouco para ser aprendido mas qualquer área de conhecimento.

O segredo está em uma maior liberdade, incentivo e espaços gratuitos para realização de projetos para que cada um faça suas próprias descobertas, crie seus próprios caminhos, sua forma de pensar e de como resolver problemas.

O dia que conseguirmos espalhar pelo Brasil o acesso gratuito, não mais só a campos de várzea e bolas de futebol, mas a espaços e tecnologias de baixo custo criaremos grandes craques e inovadores em muitas outras áreas.

 


Fontes utilizadas:
 A importância do futebol de rua na formação de jogadores de futebol de excelência 

Texto originalmente publicado no Medium

 

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João Rubens Costa

Com perfil maker, ele é a figura que representa a energia é criatividade dos jovens de Santa Rita Do Sapucaí. Engenheiro, empreendedor & co-founder do Hack Town.