Quando as Máquinas por fim, nos libertarem das atividades de Máquinas, O QUE FAREMOS NÓS ENTÃO?

A humanidade está as vésperas de receber em larga escala, tecnologias poderosas com o potencial de libertar pessoas de atividades repetitivas como AI & Robotização, desmaterializar mundos para democratizá-los com…

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Eletric Dreams da Amazon é mais otimista sobre o Futuro do que Black Mirror
Imagem: Amazon Prime

Eletric Dreams da Amazon é mais otimista sobre o Futuro do que Black Mirror

A adaptações em forma de episódios das histórias de Philip K. Dick podem ser brutais e expressivas, mas com uma visão menos cínica da humanidade

Muitos já devem ter ouvido falar de Philip K. Dick ou pelo menos ter lido alguma de suas obras. Considerado como um dos maiores mestres da ficção científica, ele também é um dos autores que mais tem suas obras adaptados para o cinema e TV.

Prolífico, criativo e transtornado, K. Dick criou uma grande quantidade de mundos, personagens e desfechos, difíceis de serem listados. Falou sobre realidades paralelas, viagens no tempo (e entre planetas), consumismo, paranoias de guerra e tecnologias inimagináveis entre os anos 1950 e 70, quando atingiu seu auge na escrita.
 
Você já deve ter assistido obras como: Minority Report, O Vingador do Futuro, O Homem Duplo e o clássico dos clássicos que ganhou recentemente uma maravilhosa continuação; Blade Runner.
 
 
Isso tudo graças às fantásticas ‘paranóias’ de Philip K. Dick. A Amazon Prime Video depois de lançar duas temporadas de O Homem do Castelo Alto – adaptação do romance que venceu o prêmio Hugo de ficção científica, vem expandindo mais as obras de PKD em seu catálogo, que é o caso da antologia futurista baseada na coletânea de contos Electric Dreams.

Black Mirror x Eletric Dreams

Hoje em dia, é quase impossível falar sobre qualquer tipo de antologia de TV sobre ficção científica, sem compará-la com o famoso, Black Mirror de Charlie Brooker. E por mais que a nova série da Amazon seja similar à Black Mirror e sua origem também vinculada a Channel4 (cujo canal que produziu ambas séries), Eletric Dreams mira rumos mais próximos do abstrato que mexem de alguma forma com o conceito do imaginário humano do que seguir pelo caminho do terror imediatista em torno de questões humanas com a tecnologia.

Serão Dez episódios da primeira temporada de Eletric Dreams

Os 10 episódios da primeira temporada de Eletric Dreams (cada um com cerca de 50 minutos de duração) são dirigidos por Ronald D. Moore, e aqueles que conhecem o trabalho de Moore não devem se decepcionar. Em seu remake de Battlestar Galactica e sua série televisa, Outlander, Moore muitas vezes simplesmente deixa a fantasia selvagem ser o pano de fundo de histórias sobre os mais profundos desejos e aspirações de seres humanos (ou robôs que se parecem e agem como seres humanos), onde a maioria das histórias sobre o futuro são realmente sobre o presente. Em histórias de mais de mil anos – ou mesmo 10 -, os escritores costumam extrapolar das tendências atuais e refletir suas próprias visões de onde a humanidade se dirige. As histórias contadas em Eletric Dreams são um retrato de hoje, filtrado através de nossas esperanças e medos coletivos.
 
 
 
A GALILEU listou algumas das vezes em que a série conseguiu bagunçar nosso cérebro ao nos fazer questionar a realidade que nos cerca — uma das maiores habilidades de PKD.
 

A realidade é real?

 
Uma das formas que a série encontra para subverter o conceito de realidade é por meio da própria crença dos personagens de que eles, de fato, estão vivendo algo real — o que nem sempre é o caso.
 
Em episódios como “The Impossible Planet”, isso fica bastante evidente. Na história, que se passa no espaço, dois guias turísticos pilotam uma nave e são responsáveis por criar truques visuais que fazem as pessoas acreditarem estar visitando lugares fantásticos do Universo.
 
O problema acontece quando uma senhora oferece uma vultuosa quantia em dinheiro para que os dois a levem à Terra — um planeta extinto há 600 anos. A solução encontrada é enganar a mulher com os truques e ficar com a grana.  
 
Para isso, eles se apoiam na ideia de que a realidade pode ser manipulável. Ou de que a realidade, na verdade, não existe, o que existe é a forma como a percebemos. Confuso né? Leia mais sobre esse experimento psicológico em O Universo no Fundo da Mente 
 
Em 1951, as universidades Princeton e Dartmouth disputaram a final da liga universitária de futebol americano. Acusada de ter sido beneficiada pelos juízes, Princeton levou a melhor. Depois do jogo, os psicólogos Albert Hastorf e Hadley Cantril, de Princeton, notaram que os jornais das duas universidades contavam histórias bem diferentes sobre o evento (um dizia que havia sido um jogo limpo, o outro não).
 
Para não correr o risco de confiar na memória, os psicólogos chamaram alunos de ambas as instituições e exibiram uma gravação da partida. As opiniões continuaram divergindo. Assim, os especialistas concluíram que, apesar de todo mundo ter visto as mesmas cenas, a percepção sobre o evento era completamente diferente entre alunos de universidades diferentes — basta lembrar da alegria dos alemães depois da vitória do 7×1.
 
Com isso, mostraram que mesmo algo aparentemente indiscutível, como um evento “real”,  pode ter interpretações divergentes, fazendo com que essa realidade possa ser questionada. Ou seja, como acontece na série, a questão não é se você está vivendo algo real ou não, mas se é real o suficiente para você. Nesse caso, a realidade seria apenas uma ilusão persistente.
 

Philip K. Dick contra o sistema

 
No episódio anticapitalista “Autofac”, a humanidade vive em uma sociedade caótica, na qual, apesar do planeta já ter sido parcialmente destruído, uma megacorporação continua produzindo mercadorias para gente que não precisa delas.
 
O problema é que a empresa polui o ambiente e torna a vida de um grupo de sobreviventes ainda pior. No desenrolar da histórias, entendemos porque a companhia não desiste de sua produção, mas o interessante aqui é se atentar à lógica do consumo.
 
Como lembra o linguista norte-americano Noam Chomsky, em entrevista à GALILEU: “Os mercados são baseados na teoria de consumidores informados que fazem escolhas racionais. Agora, ligue a televisão, dê uma olhada nos comerciais e veja: eles estão tentando criar consumidores desinformados para fazerem escolhas irracionais. É o exato contrário”.
 
Ele cita o filósofo italiano Antonio Gramsci, que diz ser possível controlar as pessoas mudando a maneira como elas percebem o mundo. “Se você consegue fazer adolescentes acreditarem que a melhor coisa a fazer num sábado à noite é ir a um shopping, então você consegue desenvolver atitudes nas quais a única coisa que importa é quão chique é seu carro, e por aí vai”, diz Chomksky.
 
Logo, manipular a realidade através do consumo não é algo tão distante assim. Basta olhar a sua volta e ver quantas coisas você realmente precisa para sobreviver e como o sentimento de necessidade pode ser algo forjado para moldar a nossa vida.
 

Lembramos para você a preço de atacado

 
Outro fator essencial na série (e na obra de PKD) é a questão da memória. Episódios como “The Commuter” e “Real Life” mostram como as memórias constroem nossas narrativas pessoais e como pode ser perigoso confiar demais nelas — alô, Blade Runner: 2049.
 
Para o filósofo David Hume, o que separa os seres humanos de bonecos sem vida (ou de um androide baseado em inteligência artificial) são as experiências. 

E se fizéssemos parte de uma grande simulação?

 
Ou como coloca o Wisecrack: “Tudo o que somos é uma coleção de experiências e memórias amontoadas em um saco de carne, é assim que nos definimos como humanos”. Mas e se pudéssemos implantar memórias falsas ou se nos apegamos demais a memórias que foram criadas por nós mesmos, mas que não representam bem a realidade? Um robô que já nasce com uma coleção de memórias pode ser considerado humano?
 
Não existem respostas fáceis para estas perguntas. Mas a série reflete de maneira muito competente sobre isso, chegando ao ponto de fazer o espectador duvidar, de fato, do que é vendido como verdade na vida dos personagens — e nos fazendo questionar sobre a nossa própria existência. Afinal, e se fizéssemos parte de uma grande simulação?
 
Com atores de peso como Janelle Monáe, Bryan Cranston, Steve Buscemi, Benedict Wong e Vera Farmiga, Electric Dreams não se trata apenas de tecnologias avançadas ou seres de outro mundo em um futuro distante. Levando conflitos humanos ao extremo e refletindo sobre as reações da humanidade, a série nos fornece ferramentas para avaliarmos a nós mesmos — além da sociedade atual em que estamos inseridos e para onde ela pode ir.
 

 

Para você entender melhor cada episódio, a VEJA propõe comparações com outros títulos de ficção científica. Confira:

K.A.O. – KILL ALL OTHERS
Baseado em “The Hanging Stranger” 1953
Louis Herthum & Mel Rodriguez EM “K.A.O.” | Photo by Elizabeth Sisson / Amazon Video
Philbert Noyce (Mel Rodriguez, de Getting On e The Last Man on Earth) é um homem que não se sente muito confortável no mundo em que vive, dominado pela tecnologia. Odeia os anúncios holográficos invasivos – que aparecem até no banheiro – e prefere ir de transporte público a utilizar um carro automatizado. Na política, também não vê muita esperança, principalmente depois de ver a única candidata a presidente (Vera Farmiga, de Amor Sem Escalas e Bates Motel) dizer durante um programa de TV que durante sua gestão vai “matar todos os outros”. Philbert fica atônito: como pode a candidata dizer uma barbaridade dessas para todos verem e por que ninguém mais parece preocupado com essa afirmação? O episódio é inspirado no conto The Hanging Stranger, de 1953, que também trata da indiferença das pessoas diante de absurdos impostos por um cenário político pouco democrático, mas as duas histórias têm detalhes diferentes, apesar de chegarem a conclusões similares.

Episódio sugerido para fãs de: Black Mirror, The Handmaid’s Tale, 1984 e Admirável Mundo Novo

SAFE AND SOUND
Baseado em “Foster, You’re Dead!” 1955
Maura Tierney em “Safe And Sound.” | Photo: Amazon Video
No conto satírico Foster, You’re Dead! (1955), pai e filho lidam com a paranoia do início da Guerra Fria, imaginando um futuro em que todo americano teria o próprio abrigo antibomba. Após muita insistência do adolescente, eles compram um e, em seguida, descobrem que o modelo está desatualizado — já que a União Soviética criou bombas que podem destruí-lo. Na adaptação para a TV, o medo é voltado para ataques terroristas, que seriam promovidos entre os próprios cidadãos americanos em um rearranjo geográfico. Uma capital, fechada e superprotegida, vive em função de ter medo do que existe fora de seus limites, estados chamados de bolhas. É neste cenário que entra Foster Lee (Annalise Basso, de Capitão Fantástico), uma adolescente que vai passar um tempo na capital com a mãe e coloca em xeque tudo que sabe até então.

Episódio sugerido para fãs de: Jogos Vorazes, 1984, Ela e Gattaca

THE COMMUTER
Baseado em “The Commuter” 1953
Timothy Spall em “The Commuter” | Photo by Christopher Raphael / Amazon Video
Um dos melhores episódios da série, Commuter acompanha a vida ordinária de Ed Jacobson (Timothy Spall, Harry Potter), funcionário da estação de trem que, em casa, lida com o filho violento Sam (Anthony Boyle, de Z: A Cidade Perdida). Certo dia uma mulher pede passagem para uma estação que não existe. A personagem misteriosa desaparece do nada, para voltar em outra ocasião e continuar pedindo pela viagem impossível. Curioso, Jacobson segue a trilha deixada por ela e descobre uma cidade que não existe no mapa, onde todos parecem felizes e sem problemas. Quando volta para casa, uma realidade paralela se instaurou, e ele vive feliz com a esposa, enquanto seu filho problemático nunca existiu. O conto de mesmo nome foi lançado por Philip K. Dick em 1953 e segue roteiro parecido, com a distinção de separar as realidades alternativas com viagem no tempo.

Episódio sugerido para fãs de: Melancolia, Efeito Borboleta, A Casa do Lago e Doctor Who

THE HOOD MAKER
Baseado em “The Hood Maker” 1955
Holliday Grainger e Richard Madden em “The Hood Maker” | Photo by Chris Raphael / Amazon Video
O episódio se passa em um futuro distópico em que os computadores já não existem mais e a tecnologia, em vez de avançar, parece ter regredido. Para controlar a parcela da população que se levanta contra o governo totalitário e suas medidas que ameaçam a privacidade, a polícia recruta mutantes que são capazes de ler a mente das pessoas – e portanto, determinar quem são os insurgentes. O agente Ross (Richard Madden, de Game of Thrones) trabalha junto com a mutante Honor (Holliday Grainger, de The Borgias), mas as coisas começam a ficar complicadas quando eles veem circulando na cidade uma touca capaz de bloquear a leitura dos pensamentos. No conto original de 1955, a história é contada pela perspectiva de outro personagem e o tom é diferente – na trama de Philip K. Dick, há menos sutileza em relação a quem é o mocinho e quem é o vilão da história.

Episódio sugerido para fãs de: X-Men, Heroes, O Exterminador do Futuro e Blade Runner

AUTOFAC
Baseado em “Autofac” 1955
Juno Temple & Janelle Monae em “Autofac” | Photo by Parrish Lewis / Amazon Video
Após uma guerra que destruiu quase todo o mundo como conhecemos, um grupo de pessoas tenta resistir contra uma grande fábrica que é operada apenas por máquinas e que envia produtos constantemente à população, mesmo que ela não queira ou não precise deles. Preocupados com o consumismo e a poluição causada pela fábrica, os ativistas armam um plano para acabar com o lugar, mas antes precisam lidar com o androide Alice (Janelle Monáe, de Estrelas Além do Tempo e Moonlight: Sob a Luz do Luar), porta-voz da empresa. A premissa é bastante parecida com a história criada pelo escritor em 1955, mas o final vai por um caminho novo, explorando mais a questão robótica e o que significa ser humano.

Episódio sugerido para fãs de: Westworld, Blade Runner, Ex Machina: Instinto Artificial e Mad Max

 

HUMAN IS
Baseado em “Human Is” 1955
Liam Cunningham, Bryan Cranston & Essie Davis em “Human Is” | Photo by Thomas Lovelock / Amazon Video
Em 2520, quando o planeta oferece cada vez menos condições para a sobrevivência humana, Silas (Bryan Cranston, de Breaking Bad) é um militar de alta patente muito competente em seu trabalho como líder de missões pela galáxia na busca por suprimentos. Em casa, porém, é rude e abusivo com a mulher, Vera (Essie Davis, de O Babadook e Assassin’s Creed). Silas parte em uma missão para obter hidrogênio em outro planeta e, quando volta, como um dos únicos sobreviventes após um ataque sofrido por sua nave, está completamente diferente: torna-se gentil, dedicado e amoroso com a mulher, que estranha o comportamento do marido. A história contada no episódio é muito parecida com aquela idealizada por Philip K. Dick em 1955, com apenas alguns detalhes diferentes – no conto, o militar volta para casa empregando uma linguagem arcaica para falar e o final é um pouco mais simples.

Episódio sugerido para fãs de: Interestelar, A Chegada e Star Trek

IMPOSSIBLE PLANET
Baseado em “The Impossible Planet” 1953
Jack Reynor & Geraldine Chapman em “Impossible Planet” | Photo by Christopher Raphael / Amazon Video
No ano de 2673, o planeta Terra implodiu. Duzentos anos antes, já não era habitado. Sendo assim, a dupla de guias turísticos interstelares Andrews (Benedict Wong, de Doutor Estranho) e Norton (Jack Reynor, de Transformers: A Era da Extinção) fica espantada com o pedido de Irma (Geraldine Chaplin, de O Orfanato). A mulher de mais de 300 anos quer conhecer o planeta natal de seus antepassados antes de morrer. Acompanhada de um robô, ela oferece uma grande quantia em dinheiro aos guias, que, apesar de saberem que a Terra não existe mais, aceitam o pagamento e a levam a um planeta parecido. Bem próximo do conto de 1953, o roteiro da trama, que apostou em uma estética exagerada na TV, fala sobre raízes, envelhecer e a passagem para morte – ou um novo recomeço. O final surpreende.

Episódio sugerido para fãs de: Battlestar Galactica, Doctor Who e Star Trek

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