Ensaio sobre a Preguiça

Ensaio sobre a Preguiça
Jardins Perdidos De Heligan Uk - Sono do gigante

Há algumas semanas venho observando em mim a existência de um programa.

Descobri que é mais que um programa. É um sistema operacional.

Um sistema operacional baseado na preguiça.

Percebi que todo meu comportamento era influenciado por esse sistema.

A preguiça coordenava todos os meus movimentos.

Ela era como uma imperatriz que tinha poder, voto e opinião sobre absolutamente tudo o que eu fazia.

Ela opinava em todas as minhas ideias e autorizava ou vetava todas as minhas ações.

Era ela que me fazia comer fora ao invés de cozinhar. Que me autorizava a dormir mais um pouco. Que me fazia conversar com pessoas que já conheço ao invés de falar com pessoas novas. Que me dava a justificativa para ficar em casa e não ir a um evento ou encontro de autoconhecimento.

Ela me dizia que tudo bem hoje eu não meditar. Que estudar e exercitar a mente era mais importante que o corpo físico. Que não tem problema nenhum em não fazer a cama hoje.

Talvez você conheça esse sistema.

Descobri que a preguiça era apenas uma forma de me proteger.

Me proteger da dor.

Me proteger de uma dor emocional. Da frustração de não conseguir fazer algo.

Quando eu era criança, usei da preguiça para não fazer algo que me pediam, para evitar a dor que sentiria caso não conseguisse executar.

Me proteger de uma dor física. Era a preguiça que me ajudou a poder faltar nas aulas de natação e não sentir a dor no corpo físico.

Eu me senti tão aliviado em evitar essas dores, e outras que ainda não tive consciência, que me tornei um aliado da preguiça.

Fizemos um pacto. E desde então, temos trabalhado em parceria. Ela me ajuda a evitar as dores físicas e emocionais e eu a sirvo e ela ganha poder.
Ganha-ganha, certo?

Talvez no passado sim.

Mas hoje não mais.

Hoje a preguiça me impede de viver melhor. Me impede de fazer o que tem que ser feito. Me impede de desenvolver virtudes.

Minha vida hoje tem se tornado uma busca por desenvolver virtudes. Aquelas virtudes que eu não consegui desenvolver até hoje.

E para o desenvolvimento dessas virtudes, eu preciso me desamarrar da preguiça.

Eu desabilito esse sistema operacional.

Agradeço por toda a proteção e por toda a dor que me evitou sentir.

Mas daqui por diante, eu assumo o comando.

Eu escolho.

Eu sou.

Om.

Publicado originalmente em gustavotanaka.com.br 

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Gustavo Tanaka

Escritor, Pensador & Inspirador