UM MOMENTO DE TRANSIÇÃO. Dame Minouche Shafik é diretora da LSE (London School of Economics and Political Science). A LSE pesquisa como tornar as cidades mais habitáveis e ambientalmente sustentáveis e treina centenas de prefeitos de todo o mundo sobre como administrar melhor suas cidades.
Na LSE, Minouche prepara os alunos para um mundo em mudança. No primeiro ano, todos os alunos de graduação fazem uma aula chamada ‘LSE 100’, onde analisam os grandes problemas da época. Eles debatem e discutem as questões em torno das mudanças climáticas, sobre a pobreza global e sobre o futuro do sistema financeiro. Essa base interdisciplinar envolve os alunos com as grandes questões do dia, e depois eles se especializam, mas essa geração mudará de emprego muitas vezes na carreira. O currículo médio no LinkedIn hoje tem 20 empregos. Isso é algo novo.
Ensinar e memorizar fatos é irrelevante hoje. Ser capaz de aprender com os próprios pés, de analisar, de pensar criticamente, de absorver rapidamente novos conhecimentos, de montar e argumentar, é o foco da LSE.
A democracia está em perigo?
Na Guerra Fria, tivemos uma competição entre o capitalismo e o comunismo. O novo conflito é entre democracia e autoritarismo. As democracias precisam se renovar.
Os trabalhadores de hoje possuem as habilidades de que precisam para o futuro? Eles serão capazes de encontrar bons empregos na era da automação? Os mercados de trabalho estão funcionando de maneira que os jovens possam obter educação e encontrar empregos? Estamos construindo uma rede de segurança social que cuida das pessoas quando elas passam por momentos difíceis? Nossos sistemas de saúde são acessíveis? Como cuidamos dos idosos?
Estamos à beira de uma grande mudança por causa da automação e do aprendizado de máquina, e a maioria dos trabalhos rotineiros e repetitivos serão automatizados. Isso levará décadas e inclui não apenas trabalhos físico-mecânicos como montar um carro, mas também coisas como diagnosticar doenças oculares ou carros autônomos e grande parte da profissão contábil.
Cada revolução tecnológica na história resulta em pânico de que os empregos vão desaparecer, e cada vez que novos empregos surgiram, mas os empregos vão mudar. Precisamos investir para garantir que tanto os jovens quanto os trabalhadores atuais tenham acesso ao tipo de formação de que precisam para se adaptar a este novo mercado de trabalho. É nisso que devemos estar pensando. Por exemplo, a Dinamarca investe 1,7% do PIB, um número realmente grande, no que eles chamam de ‘políticas ativas do mercado de trabalho’ para ajudar os trabalhadores a se formarem para conseguir novos empregos. Como resultado, o desemprego na Dinamarca é muito baixo; as pessoas se movem rapidamente, o mercado de trabalho é muito flexível. É fácil para as empresas se livrarem dos trabalhadores, mas os trabalhadores recebem generosos benefícios de desemprego e podem obter treinamento para novos empregos. Eles chamam isso de ‘segurança flexível’; é flexível, mas os trabalhadores estão seguros. Isso poderia funcionar na era da automação.
“No passado, os trabalhos eram sobre músculos, agora eles são sobre cérebros, mas no futuro eles serão sobre o coração.”
Como se prepara uma pessoa para o mundo desconhecido de amanhã?
Ser capaz de sintetizar informações, analisá-las e ser crítico sobre elas será muito importante. No passado, os trabalhos eram sobre músculos, agora eles são sobre cérebros, mas no futuro eles serão sobre o coração. As profissões de cuidado e criatividade têm altos níveis de inteligência emocional, as habilidades que os robôs não podem fazer serão necessárias no futuro. No Japão, eles estão desenvolvendo robôs que são companheiros para pessoas idosas, mas que não serão um substituto perfeito para uma verdadeira companhia. Trabalhar em equipes e com outras pessoas em várias disciplinas é uma habilidade importante e, na LSE, também os ensinamos a ter habilidades de codificação e a trabalhar com grandes quantidades de dados. Cada vez mais os alunos estão realmente ansiosos para ter essas habilidades.
“Pensar é a habilidade mais valiosa que oferecemos, porque isso dura.”
A educação mudou completamente?
Está mudando. 95% de nossas palestras são capturadas online. O professor dá uma palestra, mas os alunos podem ouvi-la novamente online durante a revisão para os exames. Não fazíamos isso há 10 anos. Os alunos trabalham juntos online, interagem online, fazem projetos online. Cada vez mais temos alunos que fazem parte de seus estudos de outro lugar e depois vêm para a escola parte do tempo.
Como você disse, o pensamento deve ser desenvolvido e usado de maneira crítica?
Sim absolutamente. O computador fornece informações e você deve pensar por si mesmo sobre como interpretá-las. O que significa, acredite ou não, que ponto de vista diferente pode ser. A maioria das pessoas costumava comprar um jornal local, e era só isso a que tinham acesso. Agora eles têm escolhas muito maiores, então as pessoas têm acesso a muito mais informações. O problema é o tipo de canalização algorítmica que acontece com algumas plataformas de mídia, onde você apenas obtém informações que confirmam seus próprios preconceitos. Ensinar as pessoas a pensar é o mais importante.
Como você ensina as pessoas a pensar?
Eles praticam. Seja em um diploma de direito ou de economia, é a prática de: aqui está a evidência, aqui está uma estrutura teórica. Essa teoria é válida? O rigor de ter que olhar para os dados e fazer um argumento. Pensar é a habilidade mais valiosa que oferecemos, porque isso dura.
Você disse que uma das coisas que os jovens vão fazer é mudar muito de emprego?
Esta geração não pensa em suas carreiras de forma linear. Eles acham completamente normal trabalhar para uma organização por um tempo e depois fazer um trabalho diferente, mas semelhante em outra organização; e então eles podem se tornar independentes e fazer alguma consultoria. Alguns de nossos alunos vão trabalhar na cidade e têm muito sucesso no setor de serviços financeiros. Muitos vão para o setor público e para o serviço público. Muitos mais entram em negócios empreendedores e abrem suas próprias empresas.
Fonte: Alain Elkann Interviews
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