O Metaverse é uma possibilidade de mundo. Mas, humanos exponencializados são mundos de possibilidades

O Metaverse é uma possibilidade de mundo. Mas, humanos exponencializados são mundos de possibilidades
Metaverse

Um post trazendo notícias em primeira mão sobre o projeto do Facebook chamado Metaverse, foi publicado por Ligia Zotini alguns dias atrás. O Metaverse, ou Metauniverso, é a utilização de óculos de realidade mista, ou com computação espacial, para capturar o espaço físico em que uma pessoa se encontra e transformá-lo em um espaço sem limites proporcionado pela realidade virtual.  Você pode saber mais clicando AQUI.

Por ser uma tecnologia nova e pouco difundida, muitas pessoas tiveram dúvidas, gerando alguns questionamentos e reflexões. No grupo de WhatsApp do Voicers a conversa sobre esse tema alcançou um nível altíssimo. Em conjunto pudemos não apenas compreender o assunto de forma mais ampla, mas dividir e construir visões futuras de forma plural e elegante. É assim que se constrói o futuro! Quer fazer parte dessa construção?  Acesse o grupo Voicers Talks & Xperience clicando AQUI.

O collab começou com uma observação de Anna Flávia, que embora apaixonada pelas tecnologias expressou sua preocupação se o Metaverse não tornaria “relativizado e esquecido” a presença física do ser humano.

Conexão humana tem como princípio, meio e fim a alimentação dos milhões de sensores que temos nas células da pele, nariz, ouvido… não só nos olhos levando a informação para a cabeça, sabe? O Metaverse propõe essa conexão emocional virtual, mas será que substituiria o calor de um abraço? Mesmo que “replicasse” a sensação? O Harari, no último livro dele, 21 lições para o século XXI, frisa que isso no fundo é o começo da desumanização evolutiva que estarmos traçando. Não está necessariamente errado. Mas, não é mais humano… [Suspiros]

Entretanto, observa Ligia, existe muitas formas de fazer o recorte dessa tecnologia, é uma tendência muito grande acharmos que a tecnologia pela tecnologia é um fim em si mesmo. Por conta disso nós transferimos a responsabilidade dos meios tecnológicos, que pertence aos humanos, colocando então as tecnologias como vilãs e nós como potenciais vítimas. Dentro do próprio livro do Harari consigo fazer um recorte diferente, a vigésima primeira lição considero a mais importante, que é a meditação. Meditação não é só um ato físico psíquico, biológico, o Harari medita duas horas por dia, e afirma que utiliza esse caminho para exponencializar sua consciência e humanidade. A meditação é apenas um dos caminhos, poderia ser a arte, a música, desde que traga a expansão do ser.

Ligia fez uma releitura de uma das lições trazidas por Harari, que é conheça-te a ti mesmo. Trazendo para o contexto de um mundo altamente tecnológico ela afirma:

“Conheça a ti mesmo por que senão o algoritmo vai”

E para aprofundar-se mais nesse pensamento ela prossegue: “Exponenciar apenas a intelectualidade, ignorando a humanidade é tornar-se presa fácil para todas os joguetes de manipulação, onde a máquina como um meio pode ser utilizado por outros em benefício próprio e malefício de muitos. A inteligência artificial só conseguirá copiar e manipular aquele que utilizar sua inteligência também de forma artificial. Para os humanos que se conhecem, todas essas tecnologias, serão apenas mais um meio de expressão e não um meio de essência.

É muito comum após minhas palestras as pessoas me perguntarem se no futuro das relações não usaremos nossos sentidos. Não acredito nisso! Somos a tecnologia mais perfeita que existe, essas tecnologias mimetizam a nós mesmos, o que é um robô senão uma mimetização do nosso próprio corpo, o que é uma inteligência artificial senão uma cópia dos nossos processos neurais?!”

“Acho fantástico essas reflexões!”, assim começa a contribuição de Marcelo que segue em uma fala precisa e profunda:

“Anna Flávia certamente teus suspiros são suspiros de muitos e faz todo sentido. No entanto, concordo bastante com algo que Lígia aponta (em outras falas) sobre a necessidade de um movimento que seja diferente da ‘prospecção Black Mirror’ (o melhor da tecnologia com o pior da humanidade), o que não deixa de requerer nossa atenção. O futuro das coisas acontece para nós o tempo todo e ao longo da nossa história. O que talvez mais nos cause inquietação, seja o fato de que, nessas transformações nossa noção de tempo mudou e isso pode ser um primeiro impulso de suspiro e neste sentido, a meditação para muitos seja uma boa ferramenta para lidar com essa remodelagem do tempo, que vai seguir mudando (naturalmente que meditação não é só isso).

Contudo, somos nós que definimos o background desse espelho e precisamos trabalhar as projeções que fazemos diante dele. Ao mesmo tempo em que a sociedade cria tecnologias, a tecnologia também cria a sociedade. Existe uma relação sócio técnica (tomando emprestado o pensamento do antropólogo francês Bruno Latour) e o que precisamos é reconhecer e trabalhar, a fim de lidarmos melhor com o pensamento de que a tecnologia sendo tecnologia é apenas uma tecnologia. Que a sociedade necessita da tecnologia e que a cada tecnologia instalada, um novo desejo tecnológico nasce em forma de uma outra necessidade (daria para convidar Platão aqui). Essa necessidade é uma projeção no espelho e talvez isso seja outro motivo para suspiros.

Então necessitamos de que? O que é necessidade e o que é projetado como necessidade? Quem projeta no grande espelho da sociedade é a própria sociedade? Não é à toa que há algumas décadas as pessoas são colocadas no centro das projeções e que atualmente onde vamos, ouvimos falar sobre projetar para as pessoas. Isso é a sócio técnica, mas não é tão simples assim e nós também sabemos disso.

Quando olho para o Voicers, para O Futuro das Coisas, para encontros como o Hacktown fico muito feliz, porque certamente encontro pessoas com essas preocupações. Pessoas que também vão discutir comigo o quanto precisamos compreender as forças que atuam nessas transformações, como o sistema se adapta às transformações e como nosso protagonismo, que para mim soa melhor como ‘protagonismo social’ ainda precisa reconhecer melhor o outro, o todo e as partes. O que certamente nos levaria à longas conversas sobre cultura, que para mim é o melhor meio e mais importante que a própria tecnologia.

Sim – vocês estão cobertos de razão, comenta Anna. “Um dos motivos que me levaram a meditar mais profundamente e recentemente é a questão da alienação do corpo em curso pela nossa exponencial produção de vida digital. Foi um paradoxo muito louco: que se tenha que escavar na mente e na consciência a religação com o físico. E que essa simultaneidade seja a fonte do aprendizado mais intenso, prazeroso e dolorido possível.”

Ligia: Entendo suas questões Anna, mas nunca será sobre a vida real vs. a digital, e sim sobre a vida real podendo ser expressa em Metaverse, em multiverse, para que aquilo que sou, posso chegar mais longe. O convite é imaginar o bem sendo realizado através dessas plataformas, e quanto mais humanos podemos nos tornar.

Anna: Talvez o maior desafio que a tecnologia nos coloque hoje quando falamos de humanos expandidos e aumento de consciência seja primeiro saber o que nos define como humanos. Corpo? Emoções? Alma? Espírito? Racionalidade? Processos bioquímicos únicos? A mistura disso? Esse debate nos atormenta desde que o primeiro Sapiens levantou a cabeça e olhou as estrelas.  Ninguém sabe a resposta, essa é a verdade. Cada religião, corrente filosófica, pesquisador, tem uma visão particular. Talvez todas sejam verdadeiras ou talvez uma só.

Ligia: Possivelmente, nem agora nem no futuro conseguiremos respostas para tais perguntas nos apropriando apenas de uma única vertente, não há respostas suficientes só com a filosofia, ou só com a ciência, religião ou psicologia, precisaremos de todas.

Marcelo: O que Aristóteles propunha como virtude era justamente a capacidade de encontrar o justo meio das coisas, banir os excessos ou ao menos manter-se vigilante. As tantas distopias presentes na vida tem certa relação com os excessos e encontrar o justo meio das coisas pode fazer todo sentido.

Certamente que não é fácil, certamente que é preciso uma introspecção para encontrar em nós primeiro, meio que uma volta para dentro da caverna depois de olhar o mundo real lá fora, e quando voltamos precisamos desacorrentar nossos medos e libertá-los da escuridão que os consome. Mas é preciso voltar para dentro e já dizia Santo Agostinho ‘não vá para fora, volte para dentro de si, no interior do homem habita a verdade’…

E para você que nos acompanha, qual sua posição nesse debate? Lembre-se que possibilidades de futuros ideais se constroem em conjunto. Saudações Voicianas!

Texto de Solange Luz baseado na conversa de Ligia Zotini, Anna Flavia e Marcelo Ferreira

Anna Flavia é detectadora de insights e pesquisadora associada – Associação Polímata. Saiba mais através do linkedin Anna Flavia Ribeiro.

Marcelo Ferreira é graduado em Educação física e Filosofia, especializado em gestão de políticas culturais, designer de serviços e mestrando em Desenvolvimento Tecnologia e Sociedade. Você pode encontrá-lo no Linkedin marcelo-educa e no Instagram: marceloeduca_1981

Ligia Zotini ama fazer pontes para futuros desejáveis. É pesquisadora e pensadora de futuro, fundadora do Voicers, possui uma carreira de 15 anos na Indústria de Tecnologia e 20 anos na educação. Mestre em Global Talent Management pela PUC/SP com extensão na universidade de Wuhan – China. 

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Solange Luz

Ela é a construção de todos que conheceu e de tudo que viveu, especialista em sonhar acordada e falar consigo mesma. No Voicers é a CCC (Content, Creator & Curator), carinhosamente conhecida como Queen of Words.