Visionários da Quebrada | O Futuro também passa pela Favela

Visionários da Quebrada | O Futuro também passa pela Favela

O documentário Visionários da Quebrada, dirigido por Ana Carolina, completa um ano de lançamento. Produzido com financiamento coletivo, o filme traz a história de dez pessoas que vivem em diferentes favelas de São Paulo, mas que se apropriaram desses ambientes para promoverem cultura, arte, educação e tecnologia.


Tive a honra de rever o documentário no último dia 23/07 no Cine Sesc Augusta. Revisitar essas histórias me trouxe um olhar mais atento, e descobri que os Visionários da Quebrada apresentam os mesmos pilares que acreditamos no Voicers: Tecnologia, Tendências & Humanos para o Século XXI.

Trailer do documentário Visionários da Quebrada

Dimas Reis, por exemplo, que reside na favela do Brasilândia, Zona Norte de São Paulo, em umas das cenas afirma:

“Pra mim a gente está lutando pelo imaginário das pessoas, pela construção de imaginários. A gente precisa construir novos repertórios, que outros futuros a gente consegue projetar? Porque o ser humano é a projeção de seu futuro. Ser transformador é provocar que cada vez mais pessoas sejam visionários, que cada vez mais pessoas sejam capazes de pensar futuros desejáveis, e realizar esses futuros.”

É possível ainda ver uma cozinha comunitária que apresenta em seu cardápio inúmeras opções de sustentabilidade, com pratos refinados composto de ingredientes que seu público tenha acesso . A principal tendência do futuro, também passa por aqui e revela que as mulheres chegarão a igualdade, considerando o exemplo de Rose Modesto, mulher, negra e moradora da comunidade de São Mateus, que detém um alto cargo de liderança.

Ao término da exibição Ana Carolina e dois protagonistas do filme, Fabio Lol e Dimas Reis, participaram de um bate papo para responder algumas perguntas da plateia. Eles arrebentaram, e apresentaram conceitos de Física Quântica, falaram com base em Paulo Freire, e disseram que se precisasse, também usariam Foucault, porque essa é a verdadeira quebrada, que infelizmente só é lembrada pelo lado da escassez e violência.

Fabio Lol, Ana Carolina e Dimas Reis

Me encontrei na fala da Ana que experimentou sair do ambiente que a ela sempre fora apresentado como hostil. Quem é de quebrada assim como eu, sabe bem o que ela está se referindo, caímos na ilusão que somos “marginais” e que para ter acesso a um Futuro melhor deveríamos fugir para o mais longe possível.

Na verdade o discurso da Ana, me fez rever alguns conceitos que carregava na minha missão. Gosto de afirmar que no Voicers, além de produtora de conteúdo sou disponibilizadora de acesso. Quando possibilito que mais pessoas, de diversos lugares, tenham acesso às inúmeras tecnologias que usufruo hoje, dou a elas também a oportunidade de se apoderarem dessas ferramentas para serem protagonistas de suas próprias histórias.

Foi ai que percebi, que minha missão estava correta, porém incompleta. Mais do que mostrar pra molecada da quebrada o que é uma Inteligência Artificial, Blockchain e Física Quântica. Minha missão é despertar o conhecimento que elas já têm. Uma das frases de Tiago Matos que mais me chamou atenção em seu livro Vai Lá e Faz diz que “Passarinho criado em gaiola acredita que voar é doença”. Essa molecada já possui as asas do Futuro, elas só precisam se conscientizar e alçar voo.

Nas ruas e vielas da comunidade já vivíamos em rede muito antes desse conceito surgir. É nas quebradas que a energia das rodas, seja as de samba, de crianças ou de jovens conversando já movimentava o mundo pra um lugar melhor, com essa mesma energia que hoje chamamos Física Quântica… É nas quebradas que os mercadinhos que vendem fiado à dona Maria, já trabalham com o principal conceito de blockchain, chamado confiança .

Além disso, a visão de que acesso só existe quando trago daqui (grandes centros e polos tecnológicos) para lá (favelas), pode ser um tipo colonização. Eu possuo mais valor que vocês, então vim ensinar.

Hoje entendo que minha missão não é só levar conhecimento é permitir que todo saber: ciência, tecnologia, arte e cultura das favelas, também transitem nos grandes polos. E nessa troca, onde todos aprendem, as barreiras vão sendo quebradas e o futuro torna-se acessível, sem divisão nem distinção.


O documentário está disponível na plataforma da Taturana Mobilização Social (www.taturanamobi.com.br). Qualquer pessoa ou organização que queria levá-lo para seu espaço em uma exibição coletiva e, também, para ações de EduComunicação, já pode agendar gratuitamente @taturanamobi


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Solange Luz

Ela é a construção de todos que conheceu e de tudo que viveu, especialista em sonhar acordada e falar consigo mesma. No Voicers é a CCC (Content, Creator & Curator), carinhosamente conhecida como Queen of Words.